A PROPÓSITO – E AGORA?
E agora?
Agora me recuso a pensar que é hoje, é quinta-feira, até desejei bom domingo para o Patrício, mas houve uma segunda-feira de feriado com desfile de ratos e suas crias na capital do País, gentes nas praias disputando guarda-sol, fazendo fila pra comprar em barracas, muita areia e respiração próxima… E nós em casa, receosos de tudo, sem abraços ou cumprimentos efusivos nas ruas, cabeças cravadas em tocas, caraminholando como faremos para continuar sobrevivendo em mais uma crise político-econômica.
Nesse mundo interior em polvorosa me deu de pensar que caberia um processo comum contra o Estado Brasileiro, processo moral, por depauperação, calúnia, difamação, injúria racial, violência institucional executiva, legislativa, judiciária e policial. Já não vão mais nos pautar, a notícia quente somos nós. Ao menos a parte que não está doente de ódio representa bastante gente e tem coragem para romper com as relações escravocratas, assumir sua condição humana, os medos e responsabilidades das mudanças imprescindíveis ao viver.
O Brasil, essa janela repleta de vidros quebrados com as bordas carcomidas, por detrás existe horizonte. E eleições municipais à vista. Faz alguns anos que existem candidaturas coletivas, possibilitando assim maior efetividade na proposição e aplicação de políticas públicas. E como é aqui no nível do chão nosso de cada dia, também rachar o salário, as verbas de gabinete, a comida, o aluguel, as contas que não sofrem com a pandemia.
Não sei exatamente aonde me perdi, se na Pont Neuf, em cafés expressos imaginários, nas alamedas livres de Montevideo, nas trilhas da Chapada Diamantina, nos metrôs russos que tanto sonho conhecer ou na rodoviária de uma cidade desconhecida porém familiar, enquanto aquela antiga canção segue soprando aos ouvidos…
‘O que vocês fizeram foi o resgate de um momento mais pleno, antes que as contingências da vida e as opções feitas os apequenassem. É um exercício de retorno a um projeto de futuro emancipado. Nada de alma, mas manifesto dos desejos de emancipação de cada um‘.
Texto: Palena Duran Alves de Lima (Escritora)