Turismo

CHOQUE CULTURAL

Colocando de uma forma simples, choque cultural é o esforço de adaptação de um estrangeiro em terra estranha. É como um susto, só que duradouro, até que tudo aquilo se torne familiar. O choque cultural é normal e inevitável para qualquer intercambiário que esteja se ajustando a uma nova língua e a uma nova cultura. Você, estudante de intercâmbio, provavelmente passará por essa experiência com graus e períodos diferentes.

Você já imaginou a sua chegada no seu país de intercâmbio? Como você acha que será esse acontecimento? Você desembarcou lá e agora…? O seu intercâmbio começou. Você vai ter desafios, vai enfrentar dificuldades? Sim, lógico que vai.
E por que vou ter desafios e enfrentar dificuldades? Bem, juntamos culturas diferentes e isso será inevitável. Nem você e nem as pessoas do seu país de destino são perfeitas, e você concordará comigo que ler informações de uma pessoa é uma coisa e conviver com essa pessoa é outra coisa.

Quando vou ter que enfrentar dificuldades? Todos os dias. Quais desafios e dificuldades? Todos, os que você imagina e os que nem lhe passavam pela cabeça.

Por quê? Vou te explicar…
Você tinha uma vida arrumadinha aqui. E, de repente, você resolveu inventar esse “tal de intercâmbio”. Pois é, tudo isso ficou para trás, ficaram aqui: os seus amigos, o seu cachorro, o seu gato, o seu quarto e suas coisas, a sua escola, a sua família, o(a) seu(sua) namorado(a), o idioma que você falava, os lugares que você frequentava, a comida que você consumia…

E então você desembarcou em outro país e a sua vida virou do avesso: eles falam outra língua, eles comem outra comida, eles pensam diferente (até senso de humor é diferente), a sua família passou a ser outra, a partir de agora, você tem outro cachorro e o bicho não foi com a sua cara e você vai ter que conquistar esse cachorro, mas ele só entende a língua daquele país. Então, meu amigo, até o cachorro você vai ter que conquistar.

A escola é outra, lá você não tem amigos e se quiser, vai ter que fazer novos. Dependendo do país, o clima é outro, o fuso é outro e por conta de fatores como gravidade, a água gira ao contrário. Não importa se você era importante aqui no Brasil, talvez filho de alguém importante, se você é influente, quem você é aqui no Brasil, nem quanto dinheiro você tem/tinha, nem qual sobrenome você herdou: lá você será somente um estrangeiro. A única coisa que conta de agora em diante é VOCÊ, sua pessoa!

Ah! E você achou que viraria estrela e não virou?  Quanta atenção você acha que receberá? A única coisa que vai com você é aquilo que você aprendeu/recebeu a vida toda, são os valores: caráter, dignidade, responsabilidade, honestidade, ou seja, são os seus pilares de sustentação. É só isso que você levou. Ou melhor, agora é só isso que conta.

A vida mudou, mudou tudo! E significa que coisas que antes eram ou pareciam muito simples para você, de agora em diante ficarão um pouco mais complicadas. Você questionará muita coisa, o que é certo, o que é errado, ou se o jeito deles é o certo e talvez o certo é só uma outra forma de fazer a mesma coisa.

Em graus e intensidades mais elevadas, é você perceber que está se fazendo perguntas do tipo: O que é que eu vim fazer aqui? O que é que eu tinha na cabeça quando inventei de fazer esse tal de intercâmbio? Isso não pode ser verdade, isso não pode estar acontecendo comigo, minha vida estava tão ajeitadinha, era tudo tão normal…

Durante seu intercâmbio, você terá alguns dias frustrantes e desanimadores, você pode se sentir totalmente dominado (sem ação) entre os nativos, no começo, ou pode simplesmente ficar confuso com palavras ou frases específicas. Talvez você se sinta com vontade de voltar para casa porque sente saudade dos amigos e da família. Todos esses sentimentos e emoções são sintomas do “choque cultural”.

Você terá surpresas e assombros, mas precisa ter consciência de que ser diferente e estranho não significa que sejam esquisitos e errados, porque todos nós aprendemos desde pequenos sobre valores básicos e exemplos de comportamentos; então tendemos a assumir que a maioria de nossas crenças e comportamentos são “naturais” e são de padrão comum do universo.

É importante perceber que o que está acontecendo com você é comum para pessoas em novos ambientes e existem alguns sinais de que está passando pelo choque cultural:
Tornar-se mais tímido e quieto do que geralmente é;

  • Tornar-se mais encrenqueiro e fazer coisas que geralmente não faz.
  • Isolar-se e sentir tristeza.
  • Frequentemente sentir-se frustrado, mesmo em situações que não são novas para você.
  • Tornar-se muito crítico em relação ao país de intercâmbio achando que “tudo é melhor no meu país”.
  • Apegar-se a um membro da família hospedeira ou amigo ao invés de fazer novos amigos.
  • Sentir-se cansado ou com dor disso ou daquilo o tempo todo: dor de estômago e de cabeça são sintomas comuns.

Já é esperado que você passe pelo choque cultural e você terá opiniões negativas sobre muitas coisas, tudo que sonhou antes do seu embarque parece não ser nada interessante. Mas é importante perceber que o que está acontecendo com você é comum para pessoas em novos ambientes. O mais importante é fazer algo para ajudar a aliviar essas emoções e algumas coisas que podem lhe ajudar:

  • Deixe sua família hospedeira e seus coordenadores de intercâmbio cientes de que você está passando por esta fase.
  • Envolva-se em uma atividade.
  • Faça algum exercício físico, como sair para correr, por exemplo.
  • Faça algo por outras pessoas. Desta forma, você prestará menos atenção em você mesmo.
  • Faça, num papel, um paralelo de todas as experiências maravilhosas que você poderá ter durante sua estada.

Entenda que a forma como vai lidar com tudo isso é que vai fazer toda a diferença, juntamos culturas diferentes os problemas são inevitáveis. Ter conflitos faz parte do intercâmbio, a capacidade de resolver esse conflito é que faz toda a diferença.

Existem várias definições para a palavra inteligência e uma das definições diz que inteligência é a capacidade de se adaptar a novas situações. Você não pode evitar o choque cultural, mas pode reduzir o impacto. Quanto mais você entender a sua cultura, mais tolerante e flexível você será ao se ajustar a uma cultura diferente.

Acredito que toda cultura tenho aspectos positivos e negativos, por isso encorajo você a estudar e a estar ciente das diferenças entre seu país e o país onde você vai morar nos próximos tempos. Tente entender as diferenças antes de julgá-las.

Para limitar ao máximo possível os efeitos da saudade, você deve se envolver em atividades (esportes, visitas, jogos, lições de casa, igreja, trabalhos voluntários, programas com os amigos, academia, …). Isto manterá sua mente ocupada e você esquecerá que seus pais ou pessoas queridas estão longe ou que tudo está diferente no seu país hospedeiro.

Finalmente, você percebe que encontrou o seu próprio jeito de fazer as coisas: descobriu que você é forte e que pode fazer um monte de coisas . Você se sente fortalecido, corajoso, passa a dar importância pra coisas que antes não dava. E coisas que antes tinham importância, deixam de ter importância.

Você inventou uma nova forma de fazer coisas que antes fazia. Agora você tem uma outra visão sobre um monte de outras coisas, se ajustou a esta nova cultura e esse seu jeito  é somente “um jeito” entre muitos outros diferentes.

Como ouvi de um dos meus intercambistas: “intercâmbio não é apenas conhecer uma cultura nova, estar longe e ao mesmo tempo perto das pessoas que você ama, se sentir livre para fazer tudo que você acha que é certo. Não é simplesmente o fato de não estar nem aí para que os outros estão pensando de você, não é apenas viajar e conhecer lugares maravilhosos, estar com uma nova família que apesar de não ser sua família, é família.

Não é apenas sentir saudades de tudo e ao mesmo tempo querer viver essa vida pra sempre. É aprender que amizades verdadeiras continuam firmes, mesmo que não tenha contato frequente, é crescer como pessoa, refletir sobretudo na sua vida e nas coisas que as vezes pareciam tão certas e agora soam tão erradas. O intercâmbio, além de tudo isso, te proporciona conhecer quem você achava que conhecia melhor que qualquer um: VOCÊ MESMO!”

Texto: Perpétua Devite
Diretora da FYI Intercâmbio

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