CINEMA É RESISTÊNCIA
Cinema é resistência
O Cinema sempre resiste. Resiste e reinventa-se. Resistiu com o advento do som. Resistiu com a chegada da TV e resiste com a internet. Também resiste politicamente; nas ocasiões adversas, em tempos sem paz e com recursos escassos.
De todas as artes, o cinema é a mais recente. Vive apenas pouco mais de um século. No entanto, nasce e logo fica velho se não for constantemente renovado. Segundo Jean Claude Carrière, em seu livro “A Secreta Linguagem do Cinema”, o cinema sempre manifestou o ímpeto de se atirar de cabeça, de aceitar as coisas não planejadas e
impulsivas.
Por que então haveria de morrer mesmo diante de tantas tentativas de matá-lo? É verdade que, como todas as profissões, o cinema deve ter sua estrutura para acontecer. Como arte coletiva, envolve pessoas e equipamentos, pesquisa e trabalho, equipe técnica inclusive. Claro que precisa de condições favoráveis, política pública, pessoas pensando constantemente na atividade. A questão é que há ocasiões em que não há nenhuma possibilidade de bom senso entre os gestores e o cinema fica totalmente abandonado.
Ainda que regionalmente, no país, hoje se tenha alguns editais, está longe de poder projetar o que somos capazes de produzir.
Diante dos que não conseguem aprimorar o olhar, daqueles que se negam a reconhecer a realidade e a de se reconhecer nela surge a nossa capacidade de resistir. Exemplos não nos faltam. Seja com o expressionismo alemão, seja com o neorrealismo italiano, seja com o cinema novo. De situações hostis nasce o despojamento.
São tantas as experiências possíveis dentro de uma perspectiva que sempre representou riscos. O cinema é o triunfo do visível em tempos de cegueira intelectual.
Muitas vezes, de tanto esforço, ficamos exaustas e exaustos e, como vencidas e vencidos pelo cansaço, pensamos em parar. Até pode ser sensato dar um tempo. Porém, se pensarmos nas infinitas janelas abertas para projetar tantas expressões e tantos sentimentos, sejam eles de angústia, de medo, de pavor, de horror, de denúncia, de
caminhos, de indignação , de socorro, de tristeza, mas também de amor, de amizade, de união, de conhecimento, de história, de tudo que nos afeta, podemos continuar a produzir cinema em tempos tão sombrios.
Que triunfe a nossa arte cinematográfica em soluções das mais inovadoras, que a eterna procura por novas tecnologias de filmagem, por novos enquadramentos e por novas formas de linguagem não dê trégua para nenhum tipo de imposição que pretenda fechar os olhos da humanidade.
Renata Saraceni
Produtora, Cineasta
Imagem de Gerd Altmann por Pixabay