“GRUPOS DE APOIO: EU ESTOU BEM, VOCÊ NÃO”
“Ao longo da história, as pessoas têm demonstrado uma tendência infeliz de se reunirem em grupos. As razões para esse fenômeno variam muito, mas podem ser divididas em duas categorias gerais: necessidade em comum e desejo em comum. Na categoria da necessidade em comum encontramos coisas como partidos políticos de esquerda, mutirões para construção de celeiros, manadas de leões, movimentos pela libertação dos gays, casas de repouso para idosos, a revista Ms., exércitos, grupos de costureiras, as Rockettes e programas nos mesmos moldes do EST. (…) O fato de eu ser desprovida por completo de simpatia ou interesse pelo mundo dos agrupamentos pode ser diretamente atribuído a que meus dois desejos e necessidades principais – fumar cigarros e planejar vinganças – são, basicamente, atividades solitárias. É claro que, às vezes, um ou dois amigos aparecem e fumamos juntos e, eventualmente, eu troco algumas ideias sobre vingança com uma companhia interessada em ouvir, mas fazer uma reunião apenas para isso seria algo totalmente desnecessário.”
Extraí esse trecho do livro “O Almanaque de Fran Lebowitz”, lançamento da Editora Todavia que reúne artigos da escritora-performer Fran Lebowitz publicados na revista Interview de 1978 a 1981. O livro decepciona um pouco. Depois de um início promissor, vem uma série de gags que não me levaram ao riso, e o humor tem disso: ou se ri da piada, ou se acha o piadista bobo.
Fran é, inegavelmente, uma cínica de primeira grandeza, dessas que reduzem o mundo a uma coisinha estúpida, e a humanidade à uma raça equivocada, o que nos faz querer um pouco da ingenuidade campestre de uma Jane Austen. Está claro que Fran bebeu na fonte sarcástica de Dorothy Parker – igualmente norte-americana, igualmente demolidora –, no entanto, devemos evitar cair na tentação de comparar pessoas, escritoras e estilos, que isso não passa de zona morta para mentes preguiçosas.
O que Fran teria a dizer sobre o nosso quadro atual de homens públicos? Certamente não deixaria pedra sobre pedra sobre esses Pedros todos que vêm decrepitando o Brasil depois do primeiro descobri-lo – o tal do Cabral. O último a ganhar os holofotes foi o Guimarães – vulgo Pedro Maluco – que pôs sua cabeça a prêmio após inundar por anos a Caixa Econômica Federal – do qual foi presidente – com assédios de toda ordem: desde obrigar funcionárias a fotinhos e beijinhos e carinhos sem ter fim até incitar funcionários a flexões braçais diante de uma plateia num evento corporativo onde ideias deveriam ser prioridade.
É lamentável esse governo e todo o retrocesso que ele impõe como uma à burrice, ao machismo e ao reacionarismo. Mas, enfim, esses ismos todos existem e uma hora eles chegariam ao protagonismo – é o que minha mente me aponta para me acalentar do absurdo de tudo e me fazer aceitar que o mundo não é a nossa sala de estar com amigos adequados falando o que nós gostamos de ouvir. Essas forças contrárias sempre estiveram por aí e vão continuar, mas talvez não tão firmes e fortes, arranhadas em seu íntimo por sua total falta de amplitude estética e histórica. É o que a minha mente me mente para me dar algum alívio extemporâneo.
Rodrigo Murat é escritor
Imagem: O Almanaque
21 lições para o século 21 explora o presente e nos conduz por uma fascinante…
A arrecadação federal de impostos alcançou R$ 186,5 bilhões em fevereiro de 2034, o melhor…
Projetos da chamada pauta verde, de transição energética, e as propostas legislativas de modernização dos…
2023 vai indo embora e, no folhear da agenda para rever fatos transcorridos, a impressão…
Recentemente, no último South by Southwest - festival norte-americano de inovação e tecnologia - o…