Um grupo de 50 empresários e executivos do setor produtivo e financeiro elaborou na noite de quarta-feira um manifesto de apoio à candidatura da chapa de Guilherme Boulos e Luíza Erundina, do Psol, à Prefeitura de São Paulo. O manifesto intitulado “Boulos e a necessidade de inovação na gestão de São Paulo”, ao qual o Valor teve acesso, será divulgado oficialmente a partir de hoje e tenta dirimir resistências da iniciativa privada ao candidato do Psol.
O grupo endossa que, se eleito, Boulos governará com responsabilidade fiscal e manterá diálogo com a iniciativa privada, mantendo o foco no interesse público, como ele próprio tem enfatizado ao longo do segundo turno. O candidato do Psol conta com ampla simpatia de empresários do chamado Sistema B, certificação internacional em que empresas atestam que são social e ecologicamente responsáveis.
Muitos investidores que aderiram à candidatura de Boulos não subscrevem o manifesto por questões de compliance dos aglomerados financeiros em que atuam, cujos contratos vetam a adesão pública de apoios políticos. O manifesto é assinado por 11 “empresários B” e investidores que representam o grupo mais amplo, incluindo nomes como o do ex-banqueiro Eduardo Moreira, João Paulo Pacífico, CEO do Grupo Gaia, Marcel Fukayama, empresário B, e Luis Rheingatntz, empresário do agronegócio. Mulheres do setor empresarial também subscrevem o manifesto de apoio, como Greta Gogiel Salvi, empresária B, Nina Silva, CEO do Movimento Black Money, Flávia Aranha, estilista e empresária B, e Eliana Lopes.
Segundo o ex-banqueiro Eduardo Moreira, há uma tendência no mercado financeiro de achar que só existe uma opção para o mundo que dá certo. “E o mercado dobra essa aposta o tempo inteiro, mas o mundo parece não estar dando certo, pelo menos para essas pessoas que vivem a desigualdade da forma mais cruel”, disse ao Valor. Para o ex-banqueiro, Boulos passou a maior parte da vida dedicando-se a conhecer os problemas, e essa experiência é mais valiosa do que os que se apaixonam por soluções sem conhecer as realidades na ponta. “É muito difícil esperar mudança do mesmo grupo que está no poder”, salienta Moreira, fundador do movimento “Somos 70%”, que rejeita os extremos políticos.
Para o empresário João Paulo Pacífico, a candidatura de Boulos é a que melhor responde ao desafio da desigualdade social. “Vejo que é a candidatura que tem um olhar mais empático e compassivo, e um entendimento muito maior dessa questão social”, argumenta. Ele cita que o renda solidária proposto por Boulos revela a compreensão de que esses recursos são dinheiro na veia da economia e que, ao mesmo tempo, respondem rapidamente ao abismo social que se aprofundou na pandemia.
“Não é comunismo, não é irresponsabilidade fiscal. É um olhar para ver o que é prioridade como cidade, com a iniciativa privada fazendo parte disso. A iniciativa privada não está sendo demonizada, senão não faria sentido nós, empresários e economistas, apoiarmos essa candidatura.”
Integrantes do grupo e organizadores do manifesto participaram de cinco rodadas de conversas com Boulos no primeiro turno, inicialmente organizadas pela empresária Paula Lavigne. No segundo turno, as conversas tiveram prosseguimento, desta vez com os formuladores do programa econômico do candidato e economistas que o apoiam, aprofundando debates e dirimindo dúvidas. O grupo foi se ampliando ao longo da eleição. A maior parte dos apoiadores se declara suprapartidária, sem vinculação direta com partidos políticos. Nos bastidores, revelam que Boulos se mostrou um político afável, aberto ao debate com a iniciativa privada, ainda que seu partido, o Psol, se apresente mais refratário a esse diálogo.
“Alguns que se opõem à candidatura de Guilherme Boulos concentraram suas críticas no seu programa econômico. Nós, que trabalhamos em diferentes setores do mercado, entendemos que muitas dessas críticas são superficiais. Sua proposta se baseia numa inversão de prioridades na alocação dos recursos públicos, colocando a periferia no centro do debate. A viabilidade econômica se dará com o enfrentamento à corrupção, à revisão dos contratos com estabelecimentos de incentivos corretos e à cobrança mais efetiva da dívida ativa”, diz trecho do manifesto.
Para esse grupo de empresários, fórmulas anacrônicas e ineficientes, que reforçam a desigualdade social e econômica, não podem mais ter espaço. Eles reconhecem que o plano de governo de Boulos é ousado e não será simples executá-lo, caso ele saia vitorioso da disputa. “Mas não é impossível”, salientam. “Alguns dos dogmas mais rigorosos do sistema econômico estão sendo questionados. É o momento ideal para se fazer uma transição inovadora na prefeitura da capital econômica e financeira da América Latina. Arriscado seria insistir em experiências que não solucionaram problemas gravíssimos de exclusão social, degradação e violência urbanas”, argumenta o grupo.
O grupo faz uma crítica ácida aos tucanos que governam e governaram a cidade. “Covas, o herdeiro do capital político do avô, não teve que empreender como Boulos para se tornar prefeito. A prefeitura caiu em seu colo. E, apesar de ser educado e democrata, não tem o conhecimento e a liderança de Boulos e não conseguiu fazer uma gestão que deixasse um legado para a cidade. Foi um gestor sem brilho, ordinário”, diz o manifesto.
Para Luis Rheingatntz, empresário do agronegócio, a candidatura de Boulos entusiasma por colocar a periferia no centro do debate. “Precisamos ter um plano de cidade que tenha a capacidade de inovar e transformar, alinhado com a vocação de São Paulo. São Paulo é uma cidade de vanguarda, precisa estar na vanguarda. Podemos hoje nos colocar na vanguarda de soluções urbanas.”
Outro signatário, Marcel Fukayama concorda. “Sinto que a aproximação do Boulos com o mercado está ampliando a confiança, quebrando mitos e mostrando que São Paulo pode ter um projeto alternativo de cidade mais inclusiva e sustentável com prosperidade a todos. O jeito de fazer política no século XXI mudou e todos estão aprendendo e se adaptando a isso, incluindo o Psol.” Para o empresário, que em 2018 fez parte da coordenação da campanha presidencial de Marina Silva, “o Estado tem um papel fundamental como indutor na construção de uma nova economia”.
O poder público, sustenta, tem responsabilidade por “habilitar um ambiente institucional mais favorável para que o setor privado possa contribuir com soluções inovadoras que resolvam problemas sociais e ambientais complexos”. A vitória de Boulos, conclui, “pode colocar São Paulo como protagonista no enfrentamento de desigualdade e da crise climática”.
Fonte: Valor Econômico
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