É preciso criar mundos paralelos – o oficial está osso.
É preciso criar mundos paralelos – ainda que sob o risco de parecer alienação.
É preciso criar mundos paralelos – Xanadu, Shangrilá, Pasárgada, Atlântida.
É preciso criar mundos paralelos – com Leminski, Ledusha, Lelouch, Reich, Rouch.
É preciso criar mundos paralelos – e cantar a cidade ideal como os animais da Revolução dos Bichos que migraram para os Saltimbancos: “O sonho é meu/e eu sonho que/deve ter alamedas verdes/a cidade dos meu amores/e quem dera os moradores/e o prefeito e os varredores/fossem somente crianças.”
É preciso criar mundos paralelos – sem buzina, alarme, alarde, alerta, grade.
É preciso criar mundos paralelos – com gaivotas bailando no linóleo azul coreografadas por Nijinski.
É preciso criar mundos paralelos – trilhados por Satie em concha acústica.
É preciso criar mundos paralelos – e cantar em dueto com o anjo Belchior “as paralelas dos pneus/na água das ruas são duas estradas nuas/em que foges do que é teu.” .
É preciso criar mundos paralelos – e fugir em busca de fugas de Bach.
É preciso criar mundos paralelos – entender o personagem, a direção, a trama.
É preciso criar mundos paralelos – fora da caixa, do quadrado, da casinha.
É preciso criar mundos paralelos – extramuros.
É preciso criar mundos paralelos – intradilatados.
É preciso criar mundos paralelos – e parodiar Magritte: ceci est une pipe.
É preciso criar mundos paralelos – com o café Cortázar na Avenida Jorge Luis Borges ao rés-do-chão do Edifício Cioran.
É preciso criar mundos paralelos – e descobrir “que mistérios tem Clarice/ pra guardar-se assim tão firme no coração.”
É preciso criar mundos paralelos – sem hino nacional mas com o lábaro que ostentas estrelado.
É preciso criar mundos paralelos – dobráveis, desmontáveis, acessíveis.
É preciso criar mundos paralelos – em terra de cego, quem tem um olho joga fora.
É preciso criar mundos paralelos – com DJs tocando SLA Dance Disco Club e caipirinha de sakê saindo das bicas.
É preciso criar mundos paralelos – numa brincadeira de stop-e-siga unindo ponto a ponto como num macramê.
É preciso criar mundos paralelos – com palco, coxia e bambolina.
É preciso criar mundos paralelos – onde se dê tempo ao tempo, amor ao amor, pátria à pátria.
É preciso criar mundos paralelos – até porque, talvez eles já existam.
Rodrigo Murat é escritor
Imagem de Stefan Keller por Pixabay
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