Lembro como se fosse hoje a minha primeira eleição, minha primeira oportunidade de votar. Se não estiver enganado foi no mesmo ano em que jovens acima de 16 anos teriam o direito ao voto.
Fui alegremente ao cartório eleitoral, tirar meu título e poder exercer um dos principais, senão o mais democrático de todos os atos, o do voto. Não que seja velho, mas nessa época o voto era feito em cédulas de papel. Era uma cédula onde continha o nome dos candidatos e você fazia um X no nome. Era uma coisa bem bizarra. Para se ter uma ideia, era como é hoje nos Estados Unidos.
O mais curioso dessa história é que logo na primeira eleição que ia participar como eleitor, fui sorteado para ser mesário. Aquelas pessoas que ficam na sala, pegam seu documento, conferem a lista e te orientam durante todo o processo de votação. Ao contrário do que muitos pensam não é um ato de puro patriotismo ou de altruismo, é de fato, o melhor exemplo de ato cívico. Você é convocado para ajudar em um processo democrático da sua cidade, estado e país e aceita. Contribui para a coletividade e consequentemente para si e seus familiares.
Hoje dia 15 de novembro de 2020 pela primeira vez em 30 anos não irei votar.
Não, não é pela pandemia. Não, não é porque não confio na política. Não, não é porque não tenha nenhum candidato ou candidata que me agrade. Não, não é porque meu voto não faz diferença, pois sei que faz. Não é nenhuma das razões acima citadas e constantemente dita por grande parte dos eleitores.
Não vou votar por uma questão de logística, pela distância que estou da minha zona eleitoral. Pela impossibilidade e pela praticidade de justificar. Não preciso me deslocar mais da minha casa, hoje 30 anos depois, posso resolver esse problema instalando um aplicativo.
Pois bem, o que realmente mudou nas eleições brasileira?
Ao longo desses 30 anos pude perceber de perto o contraste entre a melhora na estrutura das eleições, sua eficiência, rapidez e modernização do processo. Viva a urnas eletrônica e o aplicativo de identificação e justificativa. É incrível a diferença qualitativa do que era antes e é hoje.
O curioso é comparar a eficiência do processo com a qualidade das propostas, das ideias e dos personagens que estão na disputa. Acredito até que o nome candidato poderia ser substituído por personagens. Viramos uma sociedade de bancadas: a evangélica, a da pólvora, a feminista, a LGBT-KY, a reacionária, a identitária e a miliciana.
Outro fato novo e curioso é o aparecimento dos mandatos coletivos. Porém, se não estou enganado, os candidatos/personagens tem que ter como premissa um mandato que pense no coletivo, uma visão aristotélica da atividade política, a busca do bem comum.
Nos transformamos ao longo destes 30 anos em uma sociedade dividida em minorias que juntas não visam o bem comum. Onde a ideologia ultrapassa o bom senso e o sentido de coletividade, o sentido de sociedade.
Como diria Marx a ideologia aliena.
Apesar de tudo e todos, esse é o ponto alto da democracia. A convivência pacífica entre o moderno e o arcáico, entre a qualidade e a ineficiência, o despropósito e a razão, o justo e o vulgar, entre o virtuoso e o horroroso.
Por fim, sem querer rimar ou usar um jargão, tenham todos uma ótima eleição.
Texto: Carbono (Escritor, fotógrafo, filósofo e artista)
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