O ALUNO CURIOSO pergunta:
– TIA, onde fica Tritrez?
Estou na exposição d´OSGEMEOS no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro cercado de crianças de uniforme escolar e olhar caçador. A “TIA” explica que OTÁVIO e GUSTAVO PANDOLFO, os tais irmãos brasileiros responsáveis por aquelas obras todas, quando crianças, eram tão agitados que, no colégio, foram separados de classe. Eram univitelinos demais e, juntos, provocavam verdadeiro curto-circuito. As crianças pensam:
– Olha! Podia ser eu!
Um MENINO de aproximadamente sete anos está de máscara, ainda que arriada no queixo pra não diferir tanto dos outros. Mesmo assim, o COLEGUINHA chega junto:
– Por que você tá de máscara ainda?
– A minha MÃE mandou.
– Tira isso. Tá todo mundo sem.
A sociedade está sempre exigindo ajuste de comportamento, para que todos possam se sentir iguais e justificados numa falsa zona de conforto. OSGEMEOS explodem a bolha, zoneiam a zona, recriando um universo todo próprio com criaturas amarelas de cabeça chata e pernas cambitas, e não exatamente idílico. Há dor, injustiça, morte, contestação. Nem tudo é sonho rosa no universo onírico.
Em um dos textos da exposição, lê-se:
“Tritrez nomeia o universo onírico e lúdico que criamos para coexistir com a realidade, aquela que partilhamos com todos, dia a dia. É um espaço habitado por personagens fantásticos, em relações mágicas entre si. Todos em Tritrez vivem num infinito atemporal e espacial. Emergem desenhados da imaginação para as folhas de papel e para as superfícies que pintamos, como um contraponto que oferecemos para um mundo visível. Essa humanidade paralela convive lá harmoniosamente em cenários naturais, bem como em contextos e lugares igualmente idealizados. Também protagoniza narrativas surreais e místicas, que brotam direto das fontes do nosso inconsciente.”
O MENINO de máscara talvez tenha vindo de Tritrez, só que ele ainda não sabe disso, e, quando souber, há de querer voltar. Não é de hoje que o poeta canta “Pasárgada”. Quem nunca sentiu no peito esse apelo inapelável?
A retrospectiva se chama “Nossos Segredos” e revela quase mil, entre esculturas inéditas, telas emprestadas por colecionadores e fotografias de grafites e murais que já não mais existem. Foram apagados pelo Estado higiênico que acha importante devolver a ordem à desordem, ainda quando essa desordem se chama arte. Mas não adianta. Apagam ali para renascer outra lá. OSGEMEOS são incansáveis em curto-circuitar.
Nasceram no Cambuci paulista e estão com 48. Quando jovens, chegaram a trabalhar em papelaria, videolocadora e banco, até decidirem inventar Tritrez. Trancaram-se na casa da mãe por quatro anos, desenhando, moldando, pavimentando o caminho, engendrando a grife – e o resto é lenda, história, ou sucesso interestelar. Com uma lata de spray na mão, saíram rabiscando o mundo: da parede de um castelo na Escócia ao Tate Modern de Londres e ao MoCA de Los Angeles, os seis continentes, para eles, ficaram do tamanho do quarto. Recentemente, criaram o painel do cenário do último show de Milton Nascimento.
Vou-me embora pra Tritrez. Lá, sou amigo d´OSGEMEOS.
Rodrigo Murat é escritor
Imagem: Obra dos Gêmeos
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