Relações na América Latina com a eleição nos EUA
Neste ponto, é importante apontar três cenários possíveis caso as eleições finalmente ocorram em setembro:
1. Triunfo do candidato americano no BID, mas vitória de Joe Biden na eleição: um interlocutor da campanha democrata descreveu Claver-Carone como “muito ideológico” e “não qualificado” para o cargo;
2. Triunfo do candidato americano no BID e vitória de Trump na eleição: talvez o melhor cenário para os EUA nesta situação;
3. Adiamento das eleições para o comando do BID: o melhor cenário para a América Latina.
É importante notar que o partido que está no poder na Casa Branca define os tingimentos gerais da política externa dos Estados Unidos. Nesse sentido, uma eventual vitória democrata provavelmente representaria um cenário de maior reaproximação e abertura às posições latino-americanas.
No entanto, se a vitória de Donald Trump demonstrou algo, foi precisamente a quebra de tradições de política externa. Hoje o cenário eleitoral é incerto, uma incerteza que também permeia o futuro das relações entre a América Latina e os EUA.
As relações serão marcadas não só pelas eleições nos Estados Unidos, mas também pelas eleições que ocorrerão em alguns países da América Latina em 2021, como as presidenciais no Peru e no Chile. Nesse sentido, pode-se pensar em um cenário futuro onde as tendências gerais sejam mantidas em cada país:
Colômbia: o país manteria sua estratégia de acoplamento com os EUA, independentemente de quem vença a eleição. Neste caso, é um elo que tem profundidade nestas duas décadas do século XXI, principalmente ligado às questões de segurança e comerciais.
Peru: o país preserva diferenças na relação com os Estados Unidos, por isso é possível imaginar uma relação mais correta, mas com divergências pontuais. O principal ponto de interesse tem a ver com o eixo comercial ligado ao Pacífico. Além disso, o Peru deve realizar eleições presidenciais em 2021. O resultado será importante para o relacionamento com os Estados Unidos.
Chile: em uma linha semelhante às anteriores, onde além do vínculo que Piñera tem com Trump ou Biden, a política externa chilena se caracteriza por seus altos níveis de institucionalidade. Na verdade, o ideológico está em um plano inferior. Nesse caso, as margens de adaptabilidade à mudança são mantidas. É importante destacar que o Chile deve realizar eleições presidenciais em 2021, onde é certo que o atual presidente Piñera não deve permanecer no poder por questões regulamentares.
Brasil: Bolsonaro tem forte ligação ideológica e discursiva com o atual presidente Estados Unidos. Sendo assim, se Joe Biden vencer a eleição, a relação presidencial entre os dois países deve mudar significativamente. No entanto, a relação bilateral entre os dois atores tem uma longa história, portanto, não se espera uma deterioração do vínculo, independente de quem seja o vencedor.
Argentina: o governo de Mauricio Macri deixou um precedente de reaproximação com Trump. No atual governo de Alberto Fernández, a estratégia da relação com os EUA é marcada principalmente pela reestruturação da dívida com o FMI e o avanço de novos acordos comerciais. No entanto, neste caso, observa-se uma relação inversa à que ocorreria no caso brasileiro, uma vez que o vínculo bilateral entre Argentina e Estados Unidos não tem a mesma solidez. É o país que pode ver maior mudança em seu relacionamento com o país norte-americano a depender do resultado da eleição.
Na análise do cenário das relações entre América Latina e Estados Unidos, não podemos deixar de estudar o posicionamento da China, que hoje disputa poder e influência na região, seja por meio de investimentos, empréstimos, infraestrutura e acordos comerciais.
Sobre essa questão, pode-se dizer que, no governo Trump, devido à nova abordagem das relações com a América Latina, a queda de braço foi vencida pela China. Em um possível cenário de vitória de Biden, os EUA podem voltar a adotar uma política mais ativa na região, como vista no governo Obama.
O que foi dito até agora se baseia na observação da tradição da política externa dos partidos Republicano e Democrata, juntamente com o atual vínculo com os principais países latino-americanos.
Até o momento, Biden está à frente na corrida, principalmente pela forte deterioração que Trump sofreu no contexto da pandemia do novo coronavírus e da escalada das tensões contra o racismo. Mas a imagem do atual presidente está se recuperando. Enquanto isso, a América Latina está à espera.
* Tomas Arias é analista político para América Latina pela XP Investimentos