SEGURADORA ALLIANZ ENFRENTA AÇÕES JUDICIAIS NOS EUA
Fundos de pensão voltados para professores, caminhoneiros e metroviários nos Estados Unidos entraram nas últimas semanas com ações judiciais contra a seguradora alemã Allianz, ao alegarem falta de proteção adequada aos portfólios de investimento durante as bruscas quedas no mercado ao longo do primeiro trimestre, como reflexo do coronavírus.
O estado de pânico no qual o mercado ficou por algumas semanas, diante das incertezas geradas pela pandemia, resultou em perdas bilionárias no mercado financeiro e assustou muitos investidores, mas nenhum outro gestor de ativos de grande porte está sendo alvo de tantos processos judiciais relacionados à volatilidade dos mercados no início do ano.
Após perdas significativas na esteira do coronavírus, em março, a Allianz foi forçada a fechar dois hedge funds, o que gerou uma onda de litígios, que a empresa afirma ser “legal e factualmente falha”.
Em conjunto, os processos movidos contra a seguradora no tribunal de Nova York alegam que as perdas dos investidores somaram cerca de US$ 4 bilhões. A atuação da Allianz também foi alvo de questionamentos da SEC (Securities and Exchange Commission, órgão equivalente à Comissão de Valores Mobiliários no Brasil).
“Embora as perdas tenham sido decepcionantes, as alegações são legal e factualmente imperfeitas e nos defenderemos vigorosamente delas”, disse a Allianz Global Investors, em nota enviada à Reuters.
Ainda de acordo com a seguradora, as ações são movidas por investidores profissionais, que compraram fundos com riscos proporcionais aos ganhos esperados para o produto.
O processo mais recente, da semana passada, que cobra ressarcimento da Allianz e de seu braço de gestão de ativos, a Allianz Global Investors, é do fundo de pensão da operadora do sistema de transporte de Nova York, a Metropolitan Transportation Authority (MTA). A empresa tem 70 mil funcionários, e fez um investimento inicial de US$ 200 milhões com a empresa.
Ações semelhantes foram movidas contra a Allianz por fundos de pensão dos professores do Arkansas, do sindicato dos caminhoneiros e de empresas do grupo do ramo de seguro saúde Blue Cross Blue Shield. Os advogados responsáveis pelos processos estão em busca de julgamentos com júri, que possam resultar em indenização.
Os processos alegam que a Allianz Global Investors, em sua família de fundos chamada “Structured Alpha”, se desviou da estratégia de usar opções para se proteger contra as abruptas quedas de curto prazo do mercado.
A investigação conduzida pela SEC continua, e a Allianz tem cooperado. A SEC não respondeu aos pedidos de entrevista.
Apostas arriscadas
Atraindo os investidores com uma abordagem de investimento “all-weather” [todas as estações], a Allianz fez apostas arriscadas e “sacrificou os benefícios de previdência dos trabalhadores da MTA, que naquele momento estavam arriscando suas vidas devido ao coronavírus para manter Nova York funcionando”, diz o processo do fundo de pensão da empresa de transportes.
Os casos representam uma segunda frente de litígios para a Allianz, uma das maiores seguradoras da Europa. A empresa sediada em Munique e seus concorrentes enfrentam processos por se negarem a pagar indenizações relacionadas ao fechamento de empresas por conta do isolamento social gerado pela pandemia.
O setor de seguros como um todo está sob pressão, à medida que enfrenta queixas por eventos cancelados e queda na demanda por seguros de automóveis e viagens. É esperado para 2020 o primeiro declínio no lucro anual do segmento em quase uma década.
No fim de março, a Allianz informou os investidores que estava liquidando dois fundos, além de um “feeder fund” offshore. Os investidores perderam 97% em um dos fundos, dizem os processos.
Em abril, a Morningstar rebaixou a classificação dos fundos restantes para negativa, “devido à falha nos protocolos de gerenciamento de risco e às incertezas”.
A Allianz contestou a classificação e, em julho, publicou um relatório interno que constatou que as perdas “não resultaram de qualquer falha na estratégia de investimento da carteira ou nos processos de gestão de risco”. (Por Tom Sims).