SÍNDROME DO REGRESSO
SÍNDROME DO REGRESSO
O seu intercâmbio está chegando ao fim e você começa a pensar e a sentir um pouco de tudo:
Sua família daqui quer ir te buscar e você pensa: “_ Que legal, assim minha família brasileira conhecerá minha família do intercâmbio.”
Mas daí a pouco, você já pensa: O que é que minha família brasileira quer vir fazer aqui? Atrapalhar a minha despedida? Só pode. E eu não vou conseguir aproveitar os meus últimos dias aqui e sabe-se lá quando eu vou poder voltar.”
Sente-se triste em deixar pra trás tudo aquilo que conquistou por você mesmo, sem saber quando vai rever aquelas pessoas que te trataram tão bem, sem nem saber direito de onde você tinha vindo; e você se tornou importante na vida delas também. Complicado imaginar de agora em diante. Mas ao mesmo tempo sente alegria porque vai rever quem deixou aqui no Brasil esperando a sua volta.
Você vai chorar mais na despedida do intercâmbio do que quando partiu para aquele lugar e deixou todo mundo aqui no Brasil.
Já aqui de volta, você tem muita história para contar. Mas nem todo mundo tem tempo e paciência em ouvir. Passado alguns dias, você continua querendo contar tudo o que te aconteceu, mas as pessoas não passaram pela experiência e seguiram sua vida normalmente.
E você fica perdidinho: você começa a achar que a vida no intercâmbio era perfeita e que você jamais deveria ter voltado para o Brasil. Você começa a querer ter a vida que tinha no intercâmbio, aqui no Brasil, de volta.
Você começa a questionar tudo. Começa a achar que fazemos tudo errado. Você analisa e pensa, mas algumas coisas para você não tem o menor sentido.
Esta Síndrome ao contrário ou choque cultural invertido, acontece com muitos intercambiários.
Alguns pais/mães e pessoas de sua convivência rotineira não entendem muito bem essa fase e reclamam que você voltou esquisito, rebelde, irritante e irritado. E alguns pais procuram por auxílio de psicólogos para “atravessar” a fase.
Mas, eu juro que eu te entendo. É difícil mesmo. Mas se você está passando por isso, este é o melhor sinal de que seu intercâmbio realmente valeu a pena.
Os motivos mais comuns que geram a síndrome do regresso, são:
Sensação de perda: Sim, você perdeu algumas datas, comemorações e fatos importantes: muitas coisas aconteceram e você não estava aqui. Perdeu novidades das vidas das pessoas próximas a você, a cidade que você morava mudou, as músicas são outras, o prefeito é outro e etc.
A falta da novidade: Quando você mora num país estrangeiro, tudo é novo. A língua é nova, a atitude das pessoas é diferente, as comidas são diferentes, tudo é novidade. Até uma mera ida ao mercado é algo mais divertido do que no Brasil. Mas aqui, de volta, apesar de ter acontecido coisas, não tem nada novo.
Amigos do intercâmbio: Uma das reclamações mais comuns, é a saudade dos amigos que você fez no intercâmbio. Você conheceu pessoas de muitas nacionalidades e eram pessoas na mesma situação que você e durante o período de intercâmbio a intensidade das relações é muito mais profunda porque ambos estão fora do seu país de origem.
Amizade passou a ter outro sentido pra você. A sensação de que pode nunca mais ver essas pessoas que foram tão importantes nesse período aumenta a sensação de perda e de depressão pós-intercâmbio.
Adaptar à realidade brasileira: Acostumar-se com o dia a dia do Brasil após um período em países da Europa ou da América do Norte, por exemplo, não é fácil. Muitos intercambistas voltam com mais medo da violência e dos assaltos do que quando partiram daqui; reclamam muito dos preços, pois se acostumaram a ter maior poder de compra com menor quantidade de dinheiro; reclamam dos transportes – Não é novidade pra ninguém que a qualidade dos transportes públicos no nosso país é deficiente; reclamam da desordem: Depois de se acostumar com uma população menos enérgica que a nossa, o barulho, a confusão, as filas e o “jeitinho brasileiro” tomam uma dimensão maior do que se pensa.
A saudade das viagens: Intercambistas viajam muito. Os motivos são diversos: querem conhecer o país de destino (ou os países vizinhos) enquanto têm a oportunidade, conseguem fazer viagens a baixo custo (algo que é difícil por aqui), conhecem vários lugares em uma mesma viagem, conhecem dezenas de pessoas por viagem. Quando voltam ao Brasil, essa realidade muda. Aqui, viajar é mais caro, não tem um bando de estrangeiros durante as viagens pra você conhecer e aos poucos, viagens passam a não ser tão frequentes e você sente falta, sente saudade das viagens e a vontade de cair no mundo de novo só aumenta.
Sim, “eu mudei” e ainda bem: voltamos diferentes depois de um intercâmbio. Essa mudança é perceptível tanto pelos parentes e amigos, e ainda mais pelo intercambista. Você teve um monte de experiências, conquistou independência, aprendeu a se virar sozinho, tornou-se fluente em um novo idioma, você pensa diferente e age de forma diferente.
Enquanto você criou uma grande bagagem cultural e colecionou experiências, sua família e amigos, mesmo que muito felizes por você, continuaram na rotina de sempre. Você teve um crescimento acelerado pelo intercâmbio e as pessoas ao seu redor não o acompanharam, e já não aguentam mais te ouvir falar das mil e uma aventuras que você teve e eles não.
Mas você pode fazer coisas para passar mais rápido e de forma mais prazerosa:
Filmes: Você assistiu alguns filmes antes de ir para o intercâmbio. Agora, já que voltou, pode usar a mesma tática. Para matar as saudades dos locais onde visitou, vale ver filmes que foram encenados nesses lugares. Você verá os locais com uma nostalgia diferente, com uma sensação de “eu estive ali!”, que traz boas lembranças.
Se você colocar num buscador na internet: “filmes que se passaram em Londres”, “Filmagens que foram feitas na Nova Zelândia” você vai encontrar uma lista enorme com muita coisa pra ver e que ajudará a matar a saudade.
Livros: Os livros te transportam para os locais onde você esteve. Existem livros que se passam nas mais diversas cidades do mundo e garantem uma imersão ao local.
Fale do seu intercâmbio: Avise a todos quando você chegar: eu tenho muito para contar, então se preparem, sentem-se e escutem. Fale das suas experiências com amigos e família. Bota pra fora. Ficar com aquilo engasgado tornará mais difícil de digerir a saudade. Crie um blog (ou continue o blog que começou no intercâmbio); faça posts nas redes sociais, visite os seus amigos.
Ajude quem ainda vai embarcar: Você pode falar de suas experiências para os futuros, dar dicas, falar de seus erros e acertos. Quem vai embarcar para um intercâmbio terá toda a paciência do mundo pra te ouvir. Na verdade, eles adoram. E você vai se sentir útil e isso é gratificante.
Redescubra sua cidade de origem: Sabe aquela vontade de explorar que você tinha ao viver na sua cidade do exterior? Que tal aplicá-la à sua cidade aqui no Brasil? Com certeza tem muitos lugares que você não conhece, cidades próximas podem ser baratas. Muitas pessoas conhecem o exterior e não conhecem o Brasil ou a cidade vizinha.
REGRESSAR AO PAÍS DO INTERCÂMBIO (OU UM OUTRO QUALQUER)
Ficar aqui já não faz mais parte dos seus planos. O intercâmbio, de certa forma, serviu para mostrar que você não pertence somente a isso aqui.
Para algumas pessoas, é tão complicado passar por esses sentimentos todos, pela tal síndrome do regresso, que o único desejo delas é voltar para o país do intercâmbio ou para um outro país estrangeiro.
Vivenciar algo que sempre se desejou no intercâmbio e ver esse laço cortado em seu regresso, faz com que muitos brasileiros façam as malas, busquem um destino no exterior e só voltem ao Brasil à passeio. A falta de readaptação ao Brasil faz com que muitos brasileiros comecem a procurar meios de imigrar.
Muitos tentam (até conseguir) uma vaga de emprego no estrangeiro, buscam prosseguir com os estudos, tentam projetos que os ligue a um outro país.
É, você foi mordido pelo bichinho do intercâmbio. E não tem mais volta não, por mais que tenha voltado pra cá. Mas sabe o que é melhor? Aquele intercâmbio foi somente o primeiro, não precisa ser o único.
E se quer um conselho: faz um intercâmbio atrás do outro, em todas as suas férias e em todas as oportunidades, em qualquer brecha.
Não é somente o primeiro intercâmbio que foi inesquecível e espetacular, todos os que estão por vir, também podem ser. E você vai aproveitar mais e melhor porque aprendeu o que deve e o que não se deve fazer.
De agora em diante, você somente pensará no próximo (intercâmbio rs).
Texto: Perpétua Devite
Diretora da FYI Intercâmbio